The Lost Canvas
A MELHOR OBRA JÁ FEITA DE SAINT SEIYA?
Saint Seiya, mais popularmente conhecido no Brasil como "Os Cavaleiros do Zodíaco" é um dos, senão o mais popular anime já transmitido em terras tupiniquins, tendo feito sucesso tanto nos anos 90, na saudosa Rede Manchete, quanto nos anos 2000 em sua exibição nas tardes da Rede Bandeirantes.
É difícil explicar o motivo do sucesso, para cada pessoa que perguntar ela pode dar um motivo diferente, mas é fato de que ao ver qualquer imagem de algum personagem desse icônico anime as pessoas facilmente reconhecerão sua origem, fenômeno partilhado por poucas outras obras, uma exceção seria talvez essa nova geração que já nasceu presa as redes sociais como youtube e Tik Tok, mas como se trata de uma geração que talvez não tenha apego sequer com Chaves, acho que vale a pena desconsiderar nesse momento.
Apesar de não ser um sucesso em escala global como Dragon Ball, o sucesso de Saint Seiya garantiu ao seu criador Masami Kurumada, a oportunidade de continuar explorando a obra e transformar seu universo em uma franquia, o que se tornou muito mais fácil que o outro gigante japonês, já que o sucesso de Cavaleiros não está ligado intimamente a figura de seu protagonista, como no caso de Goku e sua trupe, mas dos conceitos por trás da história e que podem serem facilmente aplicados em novas histórias com personagens completamente diferentes que o fã consegue aceitar bem (até acho que seria interessante ver alguma coisa no multiverso de Dragon Ball que não envolvesse Goku e cia, mas acho que a TOEI e a Shueisha nunca permitiriam).
Sabendo aproveitar isso muito bem, Kurumada, em uma ótima jogada, permitiu que diversos outros autores mangakás se utilizassem de seu universo para contar histórias novas, daí surgiram obras como Episódio G, Saintia Sho, o anime Saint Seiya Ômega e claro, aquela que vamos aqui discutir Saint Seiya: The Lost Canvas, o outro mito de Hades, de autoria da mangaká Shiori Teshirogi.
Nascido da ideia de contar os eventos da guerra santa entre Hades e a deusa Atena ocorrida durante a era de Dohko e Shion o mangá era publicado em conjunto com o Next Dimension, escrito pelo próprio Kurumada, sendo que na ideia original cada história seria contada por um ponto de vista diferente, algo que não durou muito, tendo em vista a inconsistência do lançamento de Next Dimension que acabou tomando um rumo completamente diferente, salvando como semelhanças tão somente o nome dos três personagens principais da obra, o cavaleiro de pégaso Tenma, a encarnação da deusa Atena da época Sasha, e o garoto que viria ser hospedeiro de Hades, Alone
Com um traço muito bonito e uma história com início cativante Lost Canvas chamou muito a atenção dos fãs da época, que comemoraram muito com o anúncio do anime, que seria distribuído na forma de OVAs pela TMS, primeira vez em que Saint Seiya saia das mãos da TOEI Animation, o que foi encarado de forma bem positiva pelos fãs, que vinham dessatisfeitos com o estúdio pelas animações decepcionantes das sagas Inferno e Elíseos de Hades.
A essa época o mangá ainda estava a todo vapor e, pessoalmente, minha empolgação era tanta que, como membro de um fansub a época, participei da tradução dos episódios da primeira temporada do anime, que caiu nas graças dos fãs e logo ganhou uma segunda temporada, totalizando 24 episódios lançados.
Porém, logo após isso nunca mais se viu falar em Lost Canvas, algo que muitos fãs, não só da franquia de Cavaleiros, mas da própria obra receberam com estranheza, pois ainda havia muito material a ser adaptado e a recepção parecia ser tão boa que muitos diziam (e dizem até hoje) se tratar da melhor adaptação de uma obra de Saint Seiya feita até hoje.
A partir daí o que não faltaram foram teorias de fãs, a ponto de que até hoje não é difícil encontrar gente que diga que houve pressão por parte da TOEI Animation que travou uma continuação, que Kurumada promoveu boicote pois estava incomodado com o sucesso da obra e que até mesmo houve um ação judicial por parte de ambos para impedir a continuidade da obra e que até mesmo a (suposta) má qualidade e infantilidade de Saint Seiya Ômega tirou o interesse da série. A verdade nua e crua, porém, foi um pouco mais simples e cruel do que isto, Lost Canvas não continuou simplesmente porque não vendeu bem.
Mas como poderia não vender bem se os fãs eram tão apaixonados pela obra? Primeiro temos que nos lembrar do contexto do lançamento da obra. A primeira temporada foi lançada no ano de 2009, enquanto que a segunda teve seu término no ano de 2011, ou seja, em uma época onde praticamente não existiam streamings e a venda de DVD/Blu-rays bem como audiência de televisão contavam muito. Conforme dito anteriormente Lost Canvas foi lançado na forma de OVA, ou seja, era impossível o anime sobreviver por meio de audiência da televisão (como ocorreu com Ômega).
Essas vendas não foram boas ou significantes no Japão, sendo que chegou a enfrentar concorrência de animes muito fortes por lá como Railgun, Macross Frontier, K-ON e até mesmo o segundo filme de Rebuild of Evangelion.
Lembrando que o sucesso do anime em países como o Brasil e outros da América Latina que não tinha distribuição oficial e só podiam consumir por meio de fansubs em nada contribuía para uma renovação, então a única salvação seria por meio da venda de bonecos licenciados da obra, que sempre ajudou a manter a franquia como uma das lucrativas mesmo em períodos de seca de animes.
Infelizmente, porém, os dois bonecos lançados um do personagem Tenma de Pégaso e o outro do Kagaho de Bennu, também não tiveram uma boa recepção, sendo até então os únicos dessa obra lançados. E com a falha nas vendas tanto do lançamento físico, quanto dos bonecos, a TMS optou por encerrar a adaptação ao fim da segunda temporada, enterrando de vez o sonho de muitos fãs de ver a tão aclamada obra ser adaptada por completo.
MAS ELA É TÃO BOA ASSIM?
Bem, recentemente acabei revendo as duas temporadas e a impressão de que eu tive é que a resposta curta e simples é... Não. Em hipótese alguma pode ser considerada a melhor série da franquia dos Cavaleiros do Zodíaco.
Apesar do lindíssimo traço adotado a animação em si, apesar de bem fluída, graças ao lançamento em OVA que permitiu um melhor trabalho por parte dos animadores, não é em si grande coisa. Muitas cenas de batalha me parecem completamente desinteressantes ou mal aproveitadas. Pego como exemplo uma das batalhas favoritas pelos fãs, do cavaleiro Albafica de Peixes contra os espectros Niobe e o juiz Minos. Os efeitos de muito golpe não passam qualquer impacto e fica a sensação de que a luta não é tão legal quanto no mangá, mesmo o efeito dos espinhos carmesins, técnica feita a partir de uma névoa de sangue parece tão... insosso? Enquanto que na saga clássica a batalha de Afrodite contra Shun é uma das mais bem animadas do arco das 12 casas e cada golpes tem efeitos visuais lindíssimos e com grande impacto, o que parece faltar em Lost Canvas.
O passar dos anos apenas comprovou que a TMS não é lá um estúdio dos mais brilhantes, sendo que a própria TOEI Animation, tão criticada pelos fãs de Saint Seiya, consegue fazer (quando quer) animações muito mais fluídas e bem trabalhadas.
Outro aspecto é a trilha sonora, enquanto que várias OSTs da série clássica se tornaram atemporais, seja com a trilha da retrospectiva do episódio, o tema melancólico nas cenas mais tristes e dramáticas ou mesmo o sucesso absoluto da abertura Pegasus Fantasy, que valeu até mesmo um público inteiro do Rock in Rio cantando a letra a cappella, em The Lost Canvas não existe nenhuma trilha memorável, sendo que a música mais bela se trata do encerramento, cuja letra foi escrita pelo próprio Kurumada (dito como invejoso pelos fãs mais loucos).
Ignorando os aspectos de qualidade da animação, a história em si também tem seus problemas, apesar de ter um início muito forte, com o passar do tempo a mangaká Shiori Teshirogi acabou mostrando que não soube como lidar bem com alguns aspectos da obra, eu costumo dizer que ela errou principalmente em três pontos, os quais explico agora.
O primeiro deles é o fato de que o protagonista Tenma mais parece um figurante durante toda a obra do que o personagem principal, ele praticamente não tem grandes feitos e pouca participação em muitos dos momentos mais importantes, ele não derrotou, nem sequer lutou contra quaisquer um dos três juízes do inferno ou com os Deuses Gêmeos, a partir de determinado ponto a história não parece ser dele, mas sim dos Cavaleiros de Ouro, sendo escanteado e tendo relevância apenas no final para enfrentar um dos piores vilões já criados (a qual comentarei ainda) e resolver a questão com Hades no último capítulo, se fosse traçar um paralelo diria que ele parece com o personagem Vaan de Final Fantasy XII, ele é o protagonista, mas a história não é sobre ele e o que ele faz ou não pouco importa.
Isso se relaciona um pouco com o segundo problema, pois em algum ponto a autora passou a gostar tanto dos seus Cavaleiros de Ouro que o mangá passou a ser sobre eles (algo que ela gostou tanto que publicou diversos gaidens contando mais histórias sobre eles após o fim do mangá original), sendo que ainda eles não poderiam partir sem um confronto épico e aí que surge o segundo problema.
Conforme sabemos pela obra original o exército de Hades, apesar de mais numeroso não é tão mais poderoso, sendo que sua grande força está nos três juízes e nos Deuses Gêmeos, Thanatos e Hipnos, e a mangaká cometeu o grave erro de se livrar deles cedo demais na obra, em algum momento já não deveriam mais haver inimigos para bater de frente com os Cavaleiros de Ouro, mas ainda haviam muitos vivos e eles não poderia ter um fim patético ou desinteressante, o que forçou a autora a criar saídas de roteiro muito ruins, como um super Radamanthys imortal que derrotou um cavaleiro de leão cujo nível apelação faria inveja até nos personagens de Episódio G, ou um Sísifo morimbudo sem coração andando e aplicando Exclamação de Atena antes de morrer.
E assim como um primeiro problema acabou levando ao segundo, este mesmo acaba levando ao terceiro grande problema que nada mais é que a continuidade da história, após o fim do anime temos um arco interessante no Templo de Poseidon, mas depois disso a historia segue um espiral horrível de narrativa e combates, tem o já mencionado Radamanthys que acaba voltando da morte e ganha um buff de poder ridículo e entra no pior combate da franquia de Saint Seiya que já vi até hoje (e olha que Ômega existe), que é contra um cavaleiro de leão absolutamente Over Power que usa Exclamação de Atena sozinho, além de uma técnica que só pode ser usada pelos 12 cavaleiros de ouro juntos... E ainda perde!
E quem dera fosse apenas isso, mas ainda temos um confronto horroroso entre Shion de Áries e Lune de Balrog (aquele mesmo que o Kanon mata com um só dedo), a decepcionante luta entre Dohko e Kagaho, toda a baboseira dos dois cavaleiros de gêmeos que só é chata e a pior parte que é simplesmente brotar do nada com os pais de Tenma e colocar ambos como vilões a serviço de Hades, sendo que Tenma luta contra sua mãe Partita, a pior vilã que eu já vi, enquanto que o pai dele enfrenta o cavaleiro de gêmeos sobrevivente. Além de outros absurdos ao longo do caminho como Pandora dominando Tenma e Sasha (só o cavaleiro de pégaso e a deus Atena), uma batalha naval horrorosa entre Sísifo e Aiacos a grande revelação que na verdade Alone quem manipulou a Guerra Santa todo o tempo porque sim e é claro, o pior de tudo...
Pela saga clássica a única coisa que sabíamos era que a Guerra Santa de Dohko e Shion havia sido tão terrível e violenta que apenas ambos sobreviveram, mas no climax ainda haviam vários cavaleiros e espectros vivos, então qual a solução? O despertar de Hades (o verdadeiro, não mais manipulado por Alone), veio acompanhado de que alguns amigos meus chamaram de "peido da morte", basicamente uma fumacinha que matou todo mundo, menos Dohko e Shion que não estavam por perto, mas claro que Shiori ainda guardaria uma surpresa, afinal ela não quera que alguns de seus personagens morressem, então ela simplesmente fez com que eles sobrevivessem e deixassem de ser cavaleiros, para que na história ficasse cravado que apenas Dohko e Shion permanecessem como sobreviventes cavaleiros...
Então não, eu realmente não gosto do final do mangá e na verdade até acredito que seja bom que ele nunca continue.
Veredito Final:
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